Um mito de criação é uma narrativa simbólica pertencente a uma cultura, tradição ou povo, que descreve os seus mais remotos inícios, como o mundo, tal como conhecem, se iniciou e como eles primeiro surgiram nele.
Mitos de criação foram desenvolvidos nas tradições orais, e a forma mais comum de mito encontrada na cultura humana. Nas sociedades em que são contadas, os mitos de criação geralmente são vistos como portadores de verdades profundas, embora não necessariamente num sentido histórico ou literal.
Comumente, embora não sempre, são considerados mitos cosmogônicos - isto é, que descrevem a ordenação do cosmo a partir de um estado de caos ou amorfia. Frequentemente são considerados relatos sagrados, e podem ser encontrados em quase todas as religiões conhecidas.
MITO DA CRIAÇÃO DOS EGÍPCIOS
Antes que existisse o ar, a terra ou mesmo o céu, havia somente água, turbulenta e borbulhante, da qual surgiu Rá, o primeiro deus. Rá transformou-se em um novo elemento no cosmo: o sol. Mas a carência de outra vida logo lhe pesou e, em comunhão com a sua própria sombra, gerou uma filha, Tefnut. Ela também era um novo elemento: a umidade.
E Shu, o outro filho de Rá, tornou-se o ar. Por sua vez, eles também tiveram seus próprios descendentes, Geb e Nut (a terra e o céu). Logo foi estabelecida toda uma ordem cósmica. Contudo, essa ordem veio acompanhada de desafios não previstos.
Assim, Rá viu-se forçado a travar batalhas diárias com a serpente Apep pelo controle da atmosfera. Contando com a ajuda da esposa e filha Bast (deusa dos gatos e da fertilidade), Rá lograva êxito na maioria das vezes. Mas nos dias em que Apep vencia, havia sempre tempestades e mau tempo.
Esse era tão somente o começo daquilo que Rá teria de enfrentar. Em certa ocasião, as frustrações de dominar uma população humana que se dava a queixas e rebeliões levaram Rá, em um acesso de ira, a arrancar um dos seus olhos e atirá-lo à terra. O olho transformou na deusa da vingança, chamada Sekhmet, uma força tão destrutiva contra a humanidade que Rá, cheio de remorso, teve de chamá-la de volta usando um estratagema. Rá ordenou aos seus vassalos que produzissem milhares de barris de cerveja. A cerveja seria misturada com suco de romã para parecer sangue das vítimas humanas de Sekhmet, sendo usada para inundar o campo ao redor de sua morada terrena. O intento teve êxito. Quando Sekhmet emergiu novamente para terminar de dizimar a humanidade, ela viu seu reflexo no lago vermelho repulsivo, enamorou-se dele e bebeu a mistura, caindo no sono, permanecendo inofensiva. O resultado foi tão bom que posteriormente ela desposou Ptah, o deus absoluto da criação. E mais tarde, ironicamente, ela se transformou em Hator, deusa do amor e da celebração.
A responsabilidade por todo o cosmo começava a minar a vitalidade de Rá. Como envelhecia, Rá buscou um substituto para suas obrigações de zelar pela terra. O substituto viria a ser seu neto, Osíris.
Osíris, assim como Ísis, Set e Neftis, veio ao mundo em decorrência da união de Geb e Nut. Contudo, quando Rá passou o domínio do mundo às mãos de Osíris, ocorreu a primeira rivalidade entre irmãos na história do cosmo. E que rivalidade!
Osíris havia sido um ditador benevolente — sob seu comando os egípcios tornaram-se um povo civilizado. Mas seu irmão Set (o deus do caos e das tempestades) estava enciumado pelo presente concedido a Osíris e o matou. Ele construiu um baú primoroso, ofereceu uma festa e disse aos seus filhos que aquele que coubesse no baú poderia tê-lo para si. Mas ele havia construído o belo baú tendo em mente apenas Osíris. Quando Osíris entrou no baú, Set o selou e seus comparsas o deitaram no Nilo, na esperança de que nunca mais tornariam a vê-lo.
Assim, Osíris fora o primeiro deus da história a morrer e tornou-se o primeiro deus do mundo inferior. Quando Neftis contou à sua irmã Ísis sobre o assassínio, Ísis mergulhou em profunda tristeza, pois Osíris era não só seu marido como também seu irmão. Ela encontrou o corpo e conseguiu ressuscitar Osíris e juntos tiveram um filho chamado Hórus. Mas Set não tardou em descobrir isso e, colérico, retalhou Osíris em 14 pedaços, espalhando as partes pelo Egito de modo que nem Ísis poderia juntá-los. Anúbis, o inventor do embalsamamento e filho de Osíris, realizou o funeral na grande pirâmide.
Set passara a ser então o senhor do mundo e em virtude de sua inclinação ao caos e à violência, parecia que todas as boas obras de Osíris seriam desfeitas em breve. Comentava-se até mesmo que Set tramava usurpar o lugar de seu pai Rá.
Em conseqüência disso, Rá e Hórus convocaram um grande exército para tomar o poderio de Set. Eles convocaram Tot, deus da sabedoria e da verdade, que transformou Hórus em um disco solar com um calor tão intenso que confundiu as tropas de Set, que se destruíram mutuamente. Mas o próprio Set não podia ser encontrado em lugar nenhum. Ele escondera-se a uma grande distância, onde estaria livre para criar outra força para derrotar Rá e Hórus.
Mas não chegara a realizar seu intento. E, com a posterior derrota, Hórus retalhou Set do mesmo modo como havia sido feito com seu pai. Assim, Hórus passou a comandar o mundo e abriu o precedente para os faraós que o sucederam.
MITO DA CRIAÇÃO DOS MAIA
Na mitologia maia, Tepeu e Gucumatz (o Quetzalcoatl dos astecas) são referidos como os criadores, os fabricantes, e os antepassados. Eram dois dos primeiros seres a existir e se diz que foram tão sábios como antigos. Huracán, ou o ‘coração do céu’, também existiu e se lhe dá menos personificação. Ele atua mais como uma tempestade, da qual ele é o deus.
Tepeu e Gucumatz levam a cabo uma conferência e decidem que, para preservar sua herança, devem criar uma raça de seres que possam adorá-los. Huracán realiza o processo de criação enquanto que Tepeu e Gucumatz dirigem o processo. A Terra é criada, junto com os animais. O homem é criado primeiro de lama mas este se desfaz. Convocam a outros deuses e achem ao homem a partir da madeira, mas este não possui nenhuma alma. Finalmente o homem é criado a partir do milho por uma quantidade maior de deuses e seu trabalho é completo.
MITO DA CRIAÇÃO DOS ASTECAS
Os astecas acreditavam que, antes do presente, existiam outros mundos formados por quatro sóis, cada um com um tipo de habitante:
Gigantes, que foram mortos por jaguares enviados por Tezcatlipoca;
Humanos que foram assomados por um grande vento feito por Quetzalcóatl, e então eles precisaram agarrar-se a árvores, transformando-se em macacos;
Humanos que viraram pássaros para não morrerem na chuva de fogo enviada por Tlaloc;
Humanos que viraram peixe para não morrerem no diluvio causado pela deusa Chalchiuhtlicue;
e os humanos atuais, predestinados a sumir pela destruição empreendida por Deus do sol pelos terremotos.
No quinto sol, tudo era negro e morto. Os deuses se reuniram em Teotihuacán para discutir a quem caberia a missão de criar o mundo, tarefa que exigia que um deles teria que se jogar dentro de uma fogueira. O selecionado para esse sacrifício foi Tecuciztecatl. No momento fatídico, Tecuciztecatl retrocede ante o fogo; mas o segundo, um pequeno Deus, humilde e pobre (usado como metáfora do povo asteca sobre suas origens), Nanahuatzin, se lança sem vacilar à fogueira, convertendo-se no Sol. Ao ver isto, o primeiro Deus, sentindo coragem, decide jogar-se transformando-se na Lua.
Ainda assim, os dois astros continuam inertes e é indispensável alimentá-los para que se movam. Então outros deuses decidiram sacrificar-se e dar a “água preciosa”, necessária para criar o sangue. Por isso se os homens são obrigados a recriar eternamente o sacrifício divino original.
Eles acreditavam que os deuses gostavam destes sacrifícios. Eles eram geralmente praticados com prisioneiros de guerras. Para eles era uma honra dar a vida por um deus.
MITO DA CRIAÇÃO DOS NÓRDICOS
De acordo com a mitologia nórdica, no início, antes do despertar dos deuses, havia apenas um grande precipício vazio chamado Ginnungagap. Ao norte do vazio estava a região de névoa e gelo chamada Nifleheim, e ao sul a região de fogo Muspelheim. No meio de Nifleheim corre Hvergelmir, uma cascata de onde saem onze rios conhecidos coletivamente como Elivagar. Conforme estes afastavam-se de sua fonte até as bordas do Ginnungagap, o frio congelou suas águas e vapores transformando-os em gelo e neve.
Quando as labaredas de Muspelheim encontraram-se com os Elivagar, o calor derreteu o gelo e formou um grande gigante de gelo, Ymir. Enquanto ele dormia, o suor de seu corpo formou o primeiro de sua prole de gigantes de gelo glacial. Tempos mais tarde, o derretimento do gelo criou uma vaca chamada Audhumla, e de seu ubere corriam quatro rios de leite, de onde se alimentavam Ymir e seus filhos. Para se alimentar, a vaca lambia as pedras de gelo salgado, e após três dias ela descobriu no gelo um homem forte e esbelto chamado Buri. Buri casou-se com uma das filhas de Ymir e teve um filho, Bor, que teve três filhos com outra donzela gelada, chamados Odin, Vili e Ve, os primeiros Aesires.
Logo que os gigantes tornaram-se cientes dos deuses eles começaram uma guerra, que acabou quando os três deuses mataram Ymir, cujo sangue afogou todos os gigantes de gelo exceto Bergelmir, do qual teve origem uma nova raça de gigantes de gelo. Odin e seus irmãos carregaram o corpo de Ymir para fora do Ginnungagap e fizeram a Terra de seu corpo e as rochas de seus ossos. Pedras e cascalho originaram-se dos dentes e ossos esmigalhados do gigante morto, e seu sangue preencheu o Ginnungagap, dando origem aos lagos e mares. A abóbada celeste foi formada de seu crânio esfacelado. Dos parasitas do corpo de Ymir, eles criaram os anões, e quatro anões chamados Nordri, Sudri, Austri e Vestri sustentam o crânio de Ymir. Do cabelo de Ymir formou-se a flora, e de seu cérebro originaram-se as nuvens. Tições de Muspelheim foram colocados no céu, e assim surgiram as estrelas.
A Terra era um grande círculo rodeado pelo oceano, e os deuses haviam construído uma grande muralha a partir das pestanas de Ymir, que circundavam este local que eles nomearam Midgard. Uma enorme serpente chamada Jormungandr, a Serpente de Midgard, rodeia toda a extensão do círculo da Terra, devorando qualquer homem que queira sair de Midgard. Após isso, Odin e seus irmãos criaram o lar dos deuses, Asgard a Cidade Dourada.
Em seguida Odin criou mais deuses, os Aesires, para povoar Asgard. Um outro grupo de deuses, os Vanires, surgiu exatamente antes ou após os Aesires. Suas origens são muito misteriosas, mas eles parecem povoar Vanaheim, uma terra próxima de Asgard. Os Aesires são claramente deuses da guerra e do destino, enquanto os Vanires aparentam ser deuses de fertilidade e prosperidade. Por um longo tempo uma terrível guerra ocorreu entre estas duas raças divinas, causada pelo rapto de uma Vanir, Gullveig, que guardava o segredo de criar riquezas, fato este que atiçou a cobiça dos Aesires. Nenhum dos lados parecia próximo de alcançar a vitória. A paz foi finalmente arranjada quando os dois grupos concordaram em trocar reféns.
Os Vanires mandaram Njord e seus filhos gêmeos Frey e Freya para viver com os Aesires, e estes mandaram Hoenir, um homem grande que eles disseram ser um de seus melhores líderes, e Mimir, o mais sábio dos Aesires, para viver com os Vanires. Os Vanires ficaram desconfiados de Hoenir, acreditando que ele era menos capaz do que os Aesires disseram e percebendo que suas respostas eram menos autoritárias quando Mimir não estava presente para aconselhá-lo.
Quando eles perceberam que haviam sido trapaceados, os Vanires cortaram a cabeça de Mimir e mandaram-na de volta aos Aesires. Aparentemente, os Aesires consideraram isto como um preço justo por terem enganado os Vanires, pois os dois lados permaneceram em paz. Com o passar do tempo, as duas raças foram se integrando e tornaram-se grandes aliadas. Após estabelecerem controle sobre Asgard, Odin criou o primeiro homem, Ask, de um freixo e a primeira mulher, Embla, de um olmo.
Odin deu a cada um dos dois um espírito, Hoenir presenteou eles com seus cinco sentidos e a habilidade de se mover, e Lodur deu a eles vida e sangue.
MITO DA CRIAÇÃO DOS JAPONESA
Os deuses começaram a habitar primeiramente em um lugar chamado Takamagahara. Quando chegou a sétima geração desses deuses, o deus chamado Izanagi, ou o Pai do Céu, e a deusa chamada Izanami, ou a Mãe da Terra, receberam do Senhor do Céu uma lança e, sobre uma ponte flutuante do céu (Ama-no-ukihashi), mexeram o mar com essa lança. Das gotas de sal que caíam e se solidificavam, formou-se uma ilha chamada de Onokoro. Os dois desceram até a ilha, escolheram a coluna celeste e construíram um palácio.
Izanami deu uma volta na coluna celeste e, ao ver Izanagi, falou: “Que homem bonito!”. A seguir, Izanagi disse: “Que mulher bonita!”. E assim os dois se tornaram um corpo só e começaram a criar outras ilhas. Porém, quando olharam para elas, perceberam que não estavam muito boas. Então, voltaram ao céu para consultar os outros deuses. Eles explicaram aos dois que não é bom que uma mulher dite as primeiras palavras. Assim, o casal retornou ao palácio e, dessa vez, foi Izanagi quem dirigiu as primeiras palavras à Izanami. Unidos dessa forma, começaram a nascer belas ilhas, uma após a outra. Primeiro nasceu a ilha de Awaji, depois a de Shikoku, em seguida a de Honshu e as demais, totalizando oito ilhas. Além delas, Izanami procriou o Deus da Montanha, do Mar, do Vento, e mais 35 deuses. Ao dar à luz ao seu último deus, o Deus do Fogo, morreu queimada.
Não conseguindo esquecer Izanami, Izanagi vai até o mundo dos mortos para encontrá-la. Izanami fica feliz e deseja muito retornar à Terra, mas pede a Izanagi para não olhá-la até que o Deus da Morte lhe dê permissão para retornar. Ansioso demais para revê-la, Izanagi quebra a promessa e acaba olhando para sua amada. Qual não foi o seu susto! O corpo dela estava coberto de vermes e com oito tipos de trovão. Assustado, Izanagi começa a fugir. A mulher tenta aprisioná-lo enviando a tropa dos deuses do trovão. Na fuga, Izanagi apanha três pêssegos e atira-os contra os perseguidores, que são afugentados pelo seu poder mágico. Ele fecha a entrada do Mundo dos Mortos com uma pesada rocha que demandaria a força de mil homens para removê-la. Bastante irada, Izanami roga uma praga, dizendo de trás da rocha: “Para me vingar de você, matarei por dia, 1 mil homens do seu país!”. Izanagi retruca: “Então farei com que nasça 1,5 mil crianças por dia!”.
Izanagi purifica o seu corpo maculado por ter ido até o mundo dos mortos, através de outros relacionamentos. Nessa ocasião também nasceram muitos deuses. Por último, enquanto ele lavava seu rosto, do olho esquerdo nasceu a Deusa Amaterasu (a Deusa do Sol) a quem concede o domínio de Takamagahara e, do olho direito nasce Tsukuyomi-no-mikoto, a quem concede o domínio da noite, e do nariz nasce Susano-no-mikoto a quem concede o domínio do mar. Para a Deusa Amaterasu, ele ofereceu um colar feito de pedras. Com o nascimento desses deuses, que fornecem energia para o sol, para a lua e para o mar, dando-lhes vida e movimento, iniciam-se as atividades do universo.
A Deusa Amaterasu é a figura central e de maior importância na mitologia japonesa. Foi ela quem deu origem à família imperial. Ela é cultuada no Templo Ise, pertencente à família imperial. Até antes da Segunda Guerra, os japoneses acalentavam o desejo de visitar o local menos uma vez na vida. Não por ser o templo da família imperial, mas para rezar e pedir por uma farta colheita à deusa Amaterasu, fonte da vida, ao Deus da Água Sarutahiko, e à Deusa dos Cereais, Toyouke.
MITO DA CRIAÇÃO DOS GREGOS
“Mitos de origem” ou “mitos de criação”, na mitologia grega, são termos alusivos à intenção de fazer com que o universo torne-se compreensível e com que a origem do mundo seja explicada. Além de ser o mais famoso, o relato mais coerente e mais bem estruturado sobre o começo das coisas, a Teogonia de Hesíodo também é visto como didático, onde tudo se inicia com o Caos: o vazio primitivo e escuro que precede toda a existência. Dele, surge Gaia (a Terra), e outros seres divinos primordiais: Eros (atração amorosa), Tártaro (escuridão primeva) e Érebo. Sem intermédio masculino, Gaia deu à luz Urano, que então a fertilizou. Dessa união entre Gaia e Urano, nasceram primeiramente os Titãs: seis homens e seis mulheres (Oceano, Céos, Créos, Hiperião, Jápeto, Téia e Reia, Têmis, Mnemosine, Febe, Tétis e Cronos); e logo os Ciclopes de um só olho e os Hecatônquiros (ou Centimanos).
Contudo, Urano, embora tenha gerado estas divindades poderosas, não as permitiu de sair do interior de Gaia e elas permaneceram obedientes ao pai. Somente Cronos, “o mais jovem, de pensamentos tortuosos e o mais terrível dos filhos”, castrou o seu pai–com uma foice produzida das entranhas da mãe Gaia–e lançou seus genitais no mar, libertando, assim, todos os irmãos presos no interior da mãe. A situação final foi que Urano não procriou novamente, mas o esperma que caiu de seus genitais cortados produziu a deusa Afrodite, saída de uma espuma da água, ao mesmo tempo que o sangue de sua ferida gerou as Ninfas Melíades, as Erínias e os Gigantes, quando atingiu a terra. Sem a interferência do pai, Cronos tornou-se o rei dos titãs com sua irmã e esposa Reia como cônjuge e os outros Titãs como sua corte.
Quando Cronos tomou o lugar de Urano, tornou-se tão perverso quanto o pai. Com sua irmã Reia, procriou os primeiros deuses olímpicos (Héstia, Deméter, Hera, Hades, Poseídon e Zeus), mas logo os devorou enquanto nasciam, pelo medo de que um deles o destronasse. Mas Zeus, o filho mais novo, com a ajuda da mãe, conseguiu escapar do destino e travou uma guerra contra seu progenitor, cujo vencedor ganharia o trono dos deuses. Ao final, com a força dos Cíclopes–a quem libertou do Tártaro–Zeus venceu e condenou Cronos e os outros Titãs na prisão do Tártaro, depois de obrigar o pai a vomitar seus irmãos. Para a mitologia clássica, depois dessa destituição dos Titãs, um novo panteão de deuses e deusas surgiu. Entre os principais deuses gregos estavam os olímpicos- cuja limitação de seu número para doze parece ter sido uma idéia moderna, e não antiga – que residiam no Olimpo abaixo dos olhos de Zeus.
Nesta fase, os olímpicos não eram os únicos deuses que os gregos adoravam: existiam uma variedade de divindades rupestres, como o deus-cabra Pã, as ninfas— Náiades (que moravam nas nascentes), Dríades (espíritos das árvores) e as Nereidas (que habitavam o mar) —, deuses de rios, Sátiros e outras divindades que residiam em florestas, bosques e mares. Além dessas criaturas, existiam no imaginário grego seres como as Erínias (ou Fúrias) (que habitavam o submundo), cuja função era perseguir os culpados de homicídio, má conduta familiar, heresia ou perjúrio.
Prometeu, filho do titã Jápeto, criou artesanalmente a raça humana – homens e mulheres – moldando-os com argila e água. E então Atena, deusa da sabedoria, ao ver essas criaturas, insuflou em seu interior alma e vida.
MITO DA CRIAÇÃO DOS CRISTIANISMO, JUDAÍSMO E ISLAMISMO
A história da criação encontrada nos dois primeiros capítulos do livro da Gênesis descreve um começo sobrenatural para a Terra e a vida.
O capítulo 1 descreve a criação do mundo por Deus (Elohim) através da fala divina culminando com a criação da humanidade à imagem de Deus e a designação do sétimo dia como Sabbath, um dia de descanso ordenado por Deus. No segundo capítulo, Deus (Iavé) cria primeiro o homem, na figura de Adão e, depois, a mulher, Eva, que é criada a partir de uma costela de Adão. Termina com uma afirmação referente ao casamento entre o homem e a mulher. A visão de mundo por trás desta história é o da cosmologia comum no Antigo Oriente Médio, que concebe a Terra como disco plano com infinita água acima e abaixo. Acreditava-se que o céu era formado por um firmamento sólido e metálico (lata de acordo com os sumérios e ferro conforme os Egípcios) separando o mundo habitado das águas que o rodeavam. As estrelas estavam incrustadas na superfície inferior deste domo, com portões que permitiam a passagem do Sol e da Lua. O disco da Terra era visto como um continente-ilha único rodeado por um oceano circular, que era ligado aos mares conhecidos – Mar Mediterrâneo, Golfo Pérsico e o Mar Vermelho. Como mito de criação, é similar a outras histórias da mitologia babilônica antiga, como o Enuma Elish diferindo delas em sua aspecto monoteísta.
As passagens têm uma longa e complexa história de interpretação. Até a última metade do século 19, ela eram vistas como um contínuo uniforme: Gênesis 1:2:6 descrevendo as origens do mundo e Gênesis 2:2:25 mostrando uma pintura mais detalhada da criação da humanidade. Estudos modernos observaram o uso de nomes distintos para Deus nas narrativas (Elohim versus Iavé), diferentes ênfases (física versus moral) e divergência na ordem de criação (ex. plantas antes de humanos versus humanos antes de plantas) e concluíram que estes textos possuem origens distintas.
PRIMEIRO RELATO DA CRIAÇÃO
O primeiro relato da criação começa com o período indeterminado em que Deus (aqui chamado de Elohim) cria os céus e a terra a partir do nada (ex nihilo) ou das águas primordiais (tehom)/caos. Depois descreve a transformação da criação em seis dias do caos até o estado de ordem que culmina com a criação do humanos à sua própria imagem. O sétimo dia é santificado com um dia de descanso.
A semana de criação consistem em 8 comandos divinos em seis dias, seguido de um dia de descanso.
Primeiro dia: Deus cria a luz (O primeiro comando é “Haja luz”). A luz é dividida da escuridão.
Segundo dia: Deus cria um firmamento (o segundo comando é “Faça-se um firmamento no meio das águas, e haja separação entre águas e águas”).
Terceiro dia: Deus manda as águas se juntarem em um lugar e a terra seca aparecer (o terceiro comando é “Ajuntem-se num só lugar as águas, que estão debaixo do céu, e apareça o elemento seco”). Deus manda a terra fornecer ervas, plantas e árvores frutíferas (o quarto comando é “Produza a terra relva, ervas que dêem semente, e árvores frutíferas que, segundo as suas espécies, dêem fruto que tenha em si a sua semente, sobre a terra”).
Quarto dia: Deus cria luzes no firmamento para separar a luz da escuridão e marcar dias, estações e anos. Dois grandes luzeiros são criados (provavelmente o Sol e a Lua) e as estrelas. (o quinto comando é “Haja luzeiros no firmamento do céu, que façam separação entre o dia e a noite; sejam eles para sinais, e para tempos determinados, e para dias e anos; e sejam para luzeiros no firmamento do céu a fim de alumiar a terra”).
Quinto dia: Deus manda o mar se encher de criaturas vivas e pássaros voarem pelos céus (o sexto comando é “Produzam as águas enxames de seres viventes, e voem as aves acima da terra no firmamento do céu.”). Deus cria pássaros e criatura e os manda serem frutíferos e se multiplicarem (o sétimo comando é “Frutificai, multiplicai-vos e enchei as águas nos mares, e multipliquem-se as aves sobre a terra.”)
Sexto dia: Deus manda a terra produzir criaturas vivas (o oitavo comando é “Produza a terra seres viventes segundo as suas espécies: animais domésticos, répteis e animais selvagens segundo as suas espécies”), fez feras selvagens, animais e répteis. Cria, então, a humanidade à sua própria imagem e semelhança (o nono comando é “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança: domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todo o réptil que se arrasta sobre a terra.”). O décimo comando é “Frutificai, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.” Deus descreve a criação como “muito boa”.
Sétimo dia: Deus descansa e abençoa o sétimo dia.
O relato se aproxima mais intimamente dos contos mesopotâmicos, detalhando a formação de características únicas a partir da separação das águas, um entendimento que se refletiria no Novo Testamento, em II Pedro 3:4-7, onde é entendido que “a Terra foi formada de água e por água” À luz da mitologia Jungiana (ou comparada), acadêmicos como Joseph Campbell acreditam que esta criação a partir da água pode ser reminiscência de religiões neolíticas de deusas matriarcais, onde o universo não é criado, mas parido. (i.e., as águas representam o fluido amniótico).
De acordo com o acadêmico sobre o Velho Testamento Gordon Wenhm, este relato evidencia marcas de uma criação literária cuidadosamente escrita com uma agenda teológica distinta: a elevação de Iavé, o Deus dos israelitas, sobre todos os outros deuses, notavelmente Marduk,o deus dos babilônios.
As formas plurais em “Façamos o homem à nossa imagem” indicam, segundo estudos acadêmicos modernos, o reflexo da visão comum no Antigo Oriente Médio de um deus supremo (ver o deus El rodeado de um corte divina, os Filhos de Deus). Alguns Cristãos trinitários interpretam esta forma plural como uma evidência da doutrina da Santíssima Trindade.
Atualmente, para muitos cristãos e judeus, os sete dias da criação do mundo, de que fala a Bíblia, não devem ser entendidos literalmente e representam apenas uma forma metafórica e alegórica de explicar a criação do Universo. Mas, mesmo assim, algumas correntes cristãs, denominadas fundamentalistas, originárias em certas regiões dos Estados Unidos, defendem leitura literal da Bíblia e, motivadas por este relato de criação e outros trechos da bíblia, rejeitam a idade do universo e da Terra estipulada pela ciência moderna e defendem que o universo surgiu em apenas seis dias há menos de 10 mil anos. Este movimento é chamado de criacionismo cristão e se apresenta de diversas formas, variando desde o criacionismo da Terra plana, que defende um modelo de Terra plana, até a aceitação dos teorias científicas modernas sem conflito com a leitura da Bíblia.
SEGUNDO RELATO DA CRIAÇÃO
O segundo relato da criação descreve Deus (chamado de Iavé) formando o primeiro homem (Adão) da poeira e assoprando-lhe vida pelas narinas, plantando o jardim, formando os animais e pássaros e, finalmente, criando a primeira mulher, Eva, para ser sua companheira. Iavé tendo criado o jardim do Éden, manda que o homem o trabalhe e tome conta dele, permite que coma de todas as árvores exceto da árvore do conhecimento do bem e mal porque no dia que o homem dela comesse certamente morreria. Iavé já havia criado os animais e, então, apresenta-lhes todos a Adão e este é incapaz de encontrar uma auxiliar satisfatória entre eles, então Iavé adormece Adão e retira-lhe uma costela, da qual cria a mulher, que Adão nomeia Eva (heb. ishshah, “mulher”) porque foi tirada do homem (heb. ish, “homem”). Por causa disso, “deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne”. Gênesis 2 termina com a nota de que homem e mulher estavam nus e não se envergonhavam.
Gênesis 3 introduz a serpente, “a mais astuta dos animais do campo”, a serpente convence a mulher a comer da árvore do conhecimento, dizendo-lhe que não morreriam, mas tornar-se-iam como deuses. Eva aquiesce e oferece o fruto ao homem, que também come do fruto e “seus olhos foram abertos” e deram-se conta de que estavam nus. Cobriram-se então com folhas de figueira e esconderam-se de Iavé. Iavé pergunta o que fizeram. Adão culpa Eva e Eva culpa a serpente. Iavé amaldiçoa a serpente e então amaldiçoa Adão e Eva como trabalho pesado e dores de parto. Iavé fez túnicas de peles para ambos e, sendo o homem “como um de nós, sabendo o bem e o mal” e para impedir-lhe de comer da árvore da vida, os expulsa do jardim e coloca um querubim armado com uma espada de fogo a cuidar as portas da terra de onde haviam sido expulsos.
Este segundo relato é estimado ser muito mais antigo que o primeiro e reflete um contexto literário e histórico distinto. Sua apresentação usa imagens provenientes da antiga tradição pastoral de Israel e trata da criação do primeiro homem e da primeira mulher no Jardim do Éden e encontra paralelos na história de Atrahasis, uma epopeia acadiana do século XVIII AEC. Os povos da antiguidade observam a decomposição dos corpos das pessoas mortas, que se convertia em pó, em sua interpretação. Esse fato os levou a postular que o homem era feito essencialmente de pó. Esse conceito era compartilhado por diversos povos como os babilônicos, egípcios, gregos e romanos. De fato, um grande número de mitos de criação de toda as partes do mundo descrevem criação a partir de material do solo, normalmente, argila. O mais antigos dos mitos de criação conhecido, o dos sumérios da Mesopotâmia, conhecido como Eridu Gênesis, descreve a criação dos homens a partir de barro por deuses embriagados, que os deixaram cheios de imperfeições.
A história de Adão e Eva, embora superficialmente diferente, encontra íntimos paralelos com a história de Enkidu, um selvagem esculpido pelos deuses a partir de argila, e Shamhat, uma rameira contratada para seduzi-lo. Após seis dias e sete noites com a rameira, Enkidu não mais é servido pelos animais e plantas da floresta e “perdera sua força pois agora tinha o coração dentro de si, e os pensamentos do homem ocupavam seu coração” e Shamhat lhe disse “És sábio, Enkidu, e agora te tornaste semelhante a um deus”. Na cultura do Antigo Oriente Médio, as palavras “fruto” e “conhecimento” carregam ambas forte conotação sexual, inbu, por exemplo, significa tanto “fruto” como “sexo” em babilônico enquanto “conhecimento” em hebreu pode significar “relação sexual”.
A serpente era uma figura amplamente difundida na mitologia do Antigo Oriente Médio. Diversos objetos de culto foram descobertos por arqueólogos no estrato da Idade do Bronze em diversas cidades pré-Israelitas em Canaã: dois em Megiddo, um em Gezer, um no sanctum sanctorum da área do templo H em Hazor, e dois em Shechem. Na região circundante, o santuário Hitita da baixa idade do bronze continha estátuas em bronze de um deus segurando uma serpente em uma mão e um bastão em outra. Na Babilônia do século XI AEC, um par de serpentes de bronze emoldurava cada uma das entradas do templo de Esagila. Os antigos mesopotâmicos e semitas acreditavem que a serpente era imortal por ser capaz de mudar de pele. Na Epopeia de Gilgamesh, Gilgamesh obtém a a flor de uma “maravilhosa planta” que poderia “devolver ao homem toda a sua força perdida”, uma serpente, no entanto, roubou-lhe a flor e imediatamente trocou de pele.
A doutrina do pecado original, defendida por alguns cristãos, segundo a qual o homem nasce com pecados tem origem neste relato da Gênesis, em especial na desobediência de Adão e Eva ao comer do fruto proibido por Iavé.